Mentor do Pátio Digital Academy Adapta Roteiro Original de Alien para os Quadrinhos

Existem vários personagens grandiosos no imaginário da cultura pop e Alien com certeza é um dos maiores. Mesmo que você não seja um fã da saga de filmes, provavelmente reconhece o design marcante de H. R. Giger.

No dia 5 deste mês, a Editora Dark Horse lançou o primeiro volume de um projeto audacioso: adaptar o filme de Dan O’Bannon, Alien: O Oitavo Passageiro para os quadrinhos. Antes que alguém torça o nariz, é importante saber que a adaptação não pretende recontar o filme tal como o vimos.

Isso porque, quando Guilherme Balbi, ilustrador, quadrinista e artista conceitual com trabalhos na indústria cinematográfica como “Depois da Terra”, com Will Smith, foi convidado pela Dark Horse para assumir o projeto, foi concedida autonomia total. Como ele mesmo brinca, ao perguntar até que ponto poderia decidir os detalhes projeto, teve como resposta: “o projeto é seu. Se ficar ruim, o problema é seu também”. Foi então que ele decidiu chamar Cristiano Seixas, roteirista, cofundador da Casa dos Quadrinhos e mentor do Pátio Digital Academy, para trabalhar no roteiro da adaptação.

De acordo com Cristiano e Balbi, que fizeram uma live para contar sobre suas experiências na produção de Alien: The Original Screenplay (Alien: O Roteiro Original, tradução livre), a maior preocupação da editora era com o design da criatura. Eles queriam se distanciar da figura icônica que conhecemos, mas mantendo o aspecto humanóide. Outra recomendação era que a adaptação tivesse uma “roupagem nova”, com a cara dos anos 2020 e 2021. Para criá-la, os artistas usaram conceitos de geometria fractal e inspiração em animais de fossas abissais. Ah!, e já deixaram avisado que não vai faltar o gatinho neste quadrinho. Com menos de uma semana de lançamento, Alien – The Original Screenplay já lidera as vendas da Dark Horse.

Nós, da Pátio Digital Academy (PD), fizemos algumas perguntas para Guilherme Balbi (GB) e Cristiano Seixas (CS). Confira abaixo estas duas entrevistas exclusivas!

Guilherme Balbi

PD: Qual é a sua relação com o Alien? Como foi para você receber o convite para adaptar o filme?

GB: Alien sempre foi, desde a minha infância, um filme icônico. Foi o primeiro filme de terror que eu assisti em três partes porque era “proibido”. Eu fiquei apaixonado pela história e pelo design do monstro, que me marcou pro resto da vida.

PD: Quais foram, na sua opinião, os maiores desafios em adaptar uma obra tão icônica?

GB: O desafio foi a criação de um novo monstro tão aterrorizante quanto o primeiro e, em segundo lugar, os cenários alienígenas. Foi demorado, complicado e passamos muitas noites sem dormir pensando em como resolver.

PD: O que você mais gostou de adaptar nessa obra?

GB: No caso do desenho, não foi adaptado e sim criado. Mas eu gostei muito de desenhar o “monstro” depois de pronto.

PD: Quais dicas você daria para alguém que queira trabalhar com concept art?

GB: Referências! Consuma tudo da cultura pop, não se feche para nada, assista muitos e muitos filmes, séries e absorva tudo o que conseguir para criar o seu leque de referências.

Cristiano Seixas

PD: Você se lembra da primeira vez em que assistiu ao filme Alien: O Oitavo Passageiro? Como foi a sua experiência?

CS: Eu era muito novo da primeira vez que assisti ao filme. Eu era uma criança que tinha vizinhos mais velhos e só um dos irmãos era da minha idade. Então eu conseguia assistir filmes que aqui em casa não eram permitidos: filmes em VHS de terror, ficção e drama, geralmente para adultos. Assim que eu assisti, fiquei com muito medo e um pouco confuso com a história. Adorei o visual, mas não entendi exatamente.

Alguns anos depois reprisaram o filme no cinema e aí sim eu fiquei apaixonado de vez com o clima e o visual. Eu já era adolescente, estava voltando a curtir quadrinhos, principalmente europeus, e pirei com todo o design do filme. Lembro que Blade Runner me passou uma sensação similar. Fui pesquisar os artistas que faziam parte da produção de Alien e um deles fazia parte da equipe do Alien e também do Blade Runner. É um artista europeu que me inspira muito até hoje: o francês Moebius. Fui atrás de material dele e, com isso, entrei cada vez mais no mundo dos quadrinhos. Indiretamente, Alien é um dos responsáveis por eu ter dedicado a minha carreira aos quadrinhos.

PD: Como foi para você adaptar esta obra que, além de cult, é também aclamada pelo público nerd?

CS: Para mim, é um sonho. Tem hora que eu acho que não está acontecendo. Como eu sempre fui muito fã da franquia e de tudo o que ela representa, além de ter um estilo que eu gosto de trabalhar, eu achava que era um sonho inatingível. Mesmo sendo profissional da área há décadas, eu achava que meu envolvimento como criador ou como roteirista de um projeto internacional desse porte seria algo improvável.

Eu me envolvi em muitos projetos aqui no Brasil e, depois que eu deixei de ser agente de artistas para o Estados Unidos, o meu trabalho autoral, principalmente com a HQ da Calango, acabou me ajudando muito a ser chamado para este trabalho.

Mesmo sendo Alien, um projeto com um ícone da cultura pop, tem muito peso você manter um trabalho autoral consistente e ter grandes amigos, como o Balbi, que me convidou inicialmente.

PD: Quais foram os maiores desafios para adaptar essa obra?

CS: O maior foi ter que condensar 140 páginas de história em quadrinhos em 100 páginas, sem mudar os pontos mais importantes da história original e ainda criar coisas novas para a nova versão da HQ.

Atingir isso foi muito difícil. Em nenhuma das 5 revistas existe uma página dupla sequer. Quem é da área entende: são aquelas imagens enormes tomando duas páginas. Não tem nem mesmo uma splash page, que é quando um quadro aparece na página inteira, em uma única imagem. Não tem nada disso. A média de quadros por página é de 5 a 8, o que resulta numa história densa, sem muitos dos artifícios que a gente usa para produzir quadrinhos regularmente.

Mesmo assim, a gente tinha que fazer ela funcionar de uma forma fluida para o leitor. E acho que conseguimos.

Outro desafio que gostei muito de fazer com o Balbi foi criar novas versões dos personagens principais. O roteiro de 1976 não deixa muito claro quem é homem ou mulher, o tipo de pessoa, não está nada especificado na descrição dos personagens. Eles só têm uma frase curta para cada no roteiro original.

E aí eu tive a possibilidade de pensar em uma tripulação para essa geração de hoje. A tripulação do filme original reflete a sociedade americana do final dos anos 70, então tentei fazer uma tripulação mais globalizada, sem nenhuma relação com o perfil dos personagens originais.

Me perguntam se a pressão de pegar um título desses foi um desafio e é claro que foi, mas como sou muito fã e conheço razoavelmente bem a franquia, foi um prazer e eu não tinha vontade de parar de trabalhar no projeto.

PD: Que dica que você dá para quem está aprendendo e aspira ser roteirista?

CS: A dica que eu dou sempre aqui na Casa dos Quadrinhos é PRODUZA! Você tem que estar produzindo sempre que possível. Ficar parado não leva a lugar nenhum. Se você está sem projeto comercial ou se no seu trabalho autoral você está achando muito difícil fazer sozinho, junte-se a outro artista e faça com ele. Se achar melhor ainda, crie um coletivo. Sempre alguns acabam produzindo mais que os outros, mas o importante é você estar produzindo o seu material.

O que eu também acho legal na Casa dos Quadrinhos é o ambiente de contato com outros profissionais da área e alunos ao mesmo tempo. Tem contato com veterano da área, com quem já tem uma certa carreira, com quem está só começando, com gente que tem muitas ideias novas… Essa troca eu acho importante demais para o profissional! Inclusive, é uma das razões que me levaram a me envolver com o Pátio Digital Academy, pois teremos, de forma virtual, tudo isso que falei. E os tópicos que lidam com novas tecnologias para o entretenimento me interessam bastante.

Uma dica para roteiristas de quadrinhos é fazer uma dobradinha com o artista. Escreva uma história que você acha legal, na qual você que acredita, e veja se tem um artista para ilustrar. Pode ser um amigo a princípio e depois que estiver com mais confiança, você pode convidar outras pessoas cujo trabalho você admira, para desenhar a história. Eu acho que esse é o melhor caminho. Não faça um roteiro de mil páginas. Faça um conto curto em quadrinhos de seis ou no máximo doze páginas (oito seria ideal). Se você tiver vários contos neste formato para quadrinhos, isso já vai te dar uma prática enorme, você já vai sentir o resultado.

Com toda a modéstia, estou conseguindo provar que realmente não existe nada impossível. Você pode morar onde for que você tem chance de conseguir realizar um sonho na área à qual você se dedica. É claro que eu me dedico em tempo integral para quadrinhos, animação e uma escola de quadrinhos e animação. Estou envolvido com isso o tempo inteiro e acabo chegando em bons resultados.

Mas se você tem persistência, dedicação, gosta de saber o que acontece na área, busca conhecer clássicos e novidades, tem referências, eu acho que tudo isso acaba gerando resultado para qualquer profissional de criação, seja ele roteirista, quadrinista ou animador. 

Para terminar, gostaria de convidar os leitores a conhecer o Pátio Digital Academy, uma proposta inovadora de ensino de jogos e animações digitais. No curso, o estudante aprende técnicas narrativas, storyboard, linguagens, personagens e muitos outros elementos que contribuem decisivamente para contar sobre o universo que criaram. Nosso time de mentores e tutores é fenomenal! Cada um deles vai falar de experiências reais no mercado e o estudante já vai sair do curso produzindo seus próprios jogos e animações, e com um bom portfólio para o mercado.

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